sábado, dezembro 30, 2006

quinta-feira, dezembro 28, 2006

As Garras do Tigre

Rafael, o esbelto, tinha um tigre de papel. Como gostava, Rafael, do seu tigre de papel. Passeava-o preso por um lindo cordel, em longos devaneios pela rua, ora pensativo, ora comendo um pastel. Que delícia, Rafael, passeando o seu tigre de papel, preso por um cordel, saboreando um grande pastel, sonhando, já, com a sua lua-de-mel com Anicas Redondel, a mais bela donzela, lá prós lados de Pinhel. Levaria, decerto, o tigre de papel, preso por um cordel, e comeria um suculento pastel junto de Anicas Redondel, a mais bela esposa, lá prós os lados de Pinhel, quando fosse na viagem da sua lua-de-mel ao salutar Cabo Espichel. E foi a banhos Rafael, ao Cabo Espichel, em lua-de-mel com Anicas Redondel, a mais bela mulher, lá prós lados de Pinhel, e levou também consigo, preso por um cordel, o mais-que-estimado tigre de papel. Que tristeza, Rafael, quando pôs o pé na água com seu tigre de papel. Dissolveu-se o tão amado, só ficando, Rafael, continuando a segurar, naquele grande e belo mar, o inútil cordel, sem o tigre de papel. Com a desdita, Rafael, até espumou fel. Perdeu a fome, já não comia, nem sequer um pastel, e a Anicas Redondel, a mais bela senhora, lá prós lados de Pinhel, corria em tropel a arranjar diversões para alegrar Rafael. Em vão, Anicas Redondel, a mais bela cozinheira, lá prós lados de Pinhel, se desfez em engenhos para alindar a vida do inconsolável Rafael, inventando iguarias para convencer o marido a comer o seu farnel. Não queria, Rafael, nem o mais pequeno pastel, mas bebia, todos os dias, de vinho, quase um tonel. E em grande embriaguez, corria Rafael, a afogar as suas mágoas no mais ignóbil bordel dos arredores de Pinhel, agarrando-se, ainda, ao esgarçado cordel mas todo esquecido da sua Anicas Redondel, a mais bela chorosa, lá prós lados de Pinhel. Não podia durar muito, este excessivo Rafael, sem ouvir a sua Anicas Redondel, a mais bela sábia, lá prós lados de Pinhel, e sem poder, sequer que fosse, com o cheiro de um pastel. Mas segurando, sempre, o mesmo cordel e bebendo todos os dias, de vinho, mais de um tonel, com a lembrança perene do seu tigre de papel, levado pela maré forte do Cabo Espichel, quando lá foi a banhos na sua lua-de-mel, com a mais bela sereia, lá prós lados de Pinhel, a tão fiel e padecente Anicas Redondel. Consumiu Rafael, a saudade cruel do seu tigre de papel. Só ficou de Rafael, um fio do velho cordel, e a memória vincada de Anicas Redondel, a mais bela viúva, lá prós lados Pinhel, que maldizia o dia em que o seu finado marido lhe aparecera à porta, trincando um soberbo pastel e segurando, ladino, por um fino cordel, a terrível criatura, o tigre de papel.

terça-feira, dezembro 26, 2006

segunda-feira, dezembro 25, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

A Banhista



Don'Ondina, mui ladina, foi a banhos à piscina. D'água lisa como um espelho, banhou-se inté ao artelho.

Que feliz Don'Ondina na frescura sensual. De novo uma petiz, apesar da idade outonal. Que o banho revigora é verdade universal e Don'Ondina nadou ligeira naquela banheira descomunal.

Saiu nova e lustrosa, da idade nem sinal.
Pois, se lhe voltou, com tal milagre, toda a boa sã saúde, não eram outras aquelas águas que as da fonte da juventude.

sábado, dezembro 23, 2006

A Vagem



Tenho sede tanta sede nesta terra neste chão, só queria um golinho d'água pra matar o secão. Necessito de beber para mui forte crescer. Verde, linda & viçosa. Dou dois dedos de prosa com a semente do limão, que amarga na boca, dizem todos c'aqui estão. Mas esta sedezinha, não me sai do pensamento, pois bastava uma gotinha e já teria outro alento. Esta terra é tão antiga mas não tem nada que preste, é dura, seca e agreste. Vou crescer muit'enfezda, doente e cansada. E com um pingozinho d'água (só um pingozinho d'água) já ficav'aliviada.

(a não esquecer)


A Copofónica Ilustração dest'Arauto Abstémio

... & eis qu'este escrevinhador s'apresenta



À-Lá-Minuta
(retrato do A. pelo próprio)

De estatura meã
(A conta bancária
É que é anã),

De rosto escorreito
Tem um nariz deveras direito
(mas que leva muito a peito,
pois, de perfil,
não é um, são mil).

Homem de rigor
(perfunctório)
Só leva a sério
O que é acessório.

Mas digam lá:
Apesar dos dislates,
Se não é um tipo
Com ...

quinta-feira, dezembro 21, 2006

O "escrevinhices" se vos (re)apresenta:


Vária formata de textos, complexos et simplexos. Qu'escrita não é entchada mas alter vida. S'driva o Autor driva cum seiva do que resta drivar, à driva das palavras et dos fonemas que soam et que são seiva do ser et do komunikar o que é.




porquanto...





..."nem simples é uma saudação"

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Votiva Invocação

(post-prévio)
Que todos os primeiros auspícios sejam auspiciosos nos seus primitivos- e dirão alguns, incipientes - princípios. Que a Sorte e a Fortuna (mesmo sendo, tais enganadoras, caprichosas como elas só) ajudem, poisando os seus dulcíssimos lábios em nossa fronte. Ademais e mais ainda, as Demais Potestades ainda invocamos, não querendo leixar de fora nenhuma nem ninguém, d'ignotos e quiçá tortuosos poderes, que por respeito ao devido respeito, sentindo-se, por triste ventura e mui justamente, preteridas, poderão, decerto, tecer nós na urdidura, portar escolhos ao caminho e todas as comummente consabidas formas de obstaculização que são de uso corrente nos casos e desmandos d'entidades super-naturais que, por natural natureza e inclinação, sabem e podem impor os seus adamantinos ditames sobre os intrépidos, mas quantas vezes ingénuos mortais, bastando para despoletar o cadinho da fúria incontida e exemplar, no seu cruento exemplo, que passe o mais leve fumo de impiedade ou ingratidão, dos humílimos sequazes, em suas transcendentes pituitárias.